quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Metallica - Load

 O álbum Load, lançado pelo Metallica em 1996, foi escolhido por The Trooper para análise.

Faixas: 01-Ain't my Bitch; 02-2x4; 03-The House Jack Built; 04-Until It Sleeps; 05-King Nothing; 06-Hero of the Day; 07-Bleeding Me; 08-Cure; 09-Poor Twisted Me; 10-Wasting My Hate; 11-Mama Said; 12-Thorn Within; 13-Ronnie; 14-The Outlaw Torn


The Trooper
3
Saudações.
 
Eu poderia começar o ano de 2021 declarando que janeiro é o novo mês de férias dos metalcólatras, por isso não há postagens.
 
Mas é uma mentira. 
 
Talvez esse seja o momento mais crítico do blog, pois a tríade que se tornou o pilar dos Metalcólatras, os metallicólatras, fundadores do movimento 'senãoémetallicanãoébom', começa a desmanchar.

Phantom Lord virou um jovem místico que faz o sinal da cruz ao tocar The Number of the Beast (pera, acho que esse é outro cara).

Magician perdeu seu gremóire e suas tentativas de usar prestidigitação no lugar o levam ao auto-exílio.

Com a tríade abalada, Pirika questiona sua participação no blog.

Resta a mim então, tomar medidas drásticas para tentar em vão evitar a desintegração.

Eu me declaro agora como o novo bloglord, e minha primeira medida é a anulação de regras. Posta quem quiser, quando quiser, o que bem entender, e tenho dito.

Como postagem de protesto, insiro Load no blog, para que a profecia dos detratores do blog se confirme, onde o objetivo seria postar a discografia completa do Metallica (sim, meus próximos posts serão os álbuns restantes em ordem cronológica).

Era 1996, eu estava no penúltimo ano do colegial, o Metallica havia lançado seu último álbum 5 anos atrás, havia uma enorme expectativa sobre o que viria após o Black Album. Load foi lançado.

Eu nem mesmo tinha um computador, as informações que chegavam eram de revistas, e elas não eram boas. Restava aguardar as músicas carro-chefe serem lançadas nas rádios e os videoclipes na Mtv para confirmar a catástrofe.

De melhor banda de heavy metal, o Metallica passaria a ser uma chacota? Não sabíamos. Para quem era fã da banda (como eu era - sim Mercante, 'senaoemetallicanaoebom'), a esperança é a última que morre, não aceitaríamos a decepção sem ouvirmos com nossos próprios ouvidos.

Mtv e rádios deram suporte à nossa teimosia ('ei, essa música é estranha mas não é ruim') até que o Magician arrecadou fundos sabe-se-lá-de-onde e adquiriu um Compact Disc.

A capa é isso aí que você vê no início do post, o logo mudou, o 'desenho' era sêmen com sangue, o restante era isso aqui:















Existiam emos na época? A wikipedia diz que sim. Só sei que Lars e Kirk pareciam emos.

Os integrantes do Metallica foram substituídos por alienígenas? Era um boato que corria. Arquivo X estava no auge, e olhando essas fotos eu quase concordava com o boato.
 

 

E o som?

Bem, as músicas que viraram videoclipe já eram bem diferentes, mas só dava pra avaliar direito ouvindo o cd.

E ele começa com 'Ain't My Bitch'. A voz de Hetfield está um pouco diferente (parece que ele havia danificado as cordas vocais em uma turnê). O som lembra um pouco Black Album mas está diferente. A letra é completamente alienígena se comparada com a discografia até o momento. Hetfield apareceu com uma marca que seria constante em seu sotaque: 'Ain't my bitchA!' O solo de guitarra foi bem curto, eu estava ouvindo de novo e da primeira vez nem percebi que teve solo.

Vem '2x4', mais lenta, ainda lembra um pouco o Black Album. Os corinhos com vocais distorcidos não se parecem nada com Metallica. Dois solos, mas nenhum chama muito a atenção. Letra estranha.

'The House Jack Built' é lenta também, embora pesada, é a música do wah-wah, o solo é praticamente um wah-wah gigante, a distorção enfatiza o clima de terror que Hetfield aparenta querer passar, uma versão muito mais simples de 'The Thing That Should Not Be', ainda parece um Metallica bem diferente.

'Until It Sleeps' virou videoclipe, ela é pesada, a ruptura com o Black Album não parece tão grande aqui, é uma música marcante, já o solo passa batido. Dá pra entender porque os caras escolheram essa pra videoclipe.

'King Nothing' é a melhor música do cd, é cadenciada mas pesada, de longe a mais pesada. Outra música escolhida para videoclipe, os motivos são óbvios, não é difícil imaginar ela existindo dentro do Black Album. Notem que estou usando o penúltimo cd dos caras na época como ponte porque a ruptura com o ..And Justice já era enorme. O baixo de Jason finalmente aparece na 'paradinha', o que torna a música mais interessante aqui só por causa disso.

'Hero of The Day' foi outra música escolhida para videoclipe, ela é boa, tem a marca pop do Black Album misturando baladinha com distorção pesada para arrastar os incautos ao heavy metal. O curtíssimo solo de guitarra foi o que mais chamou atenção no cd até o momento.

O Metallica poderia ter terminado o álbum aqui. Seria só uma continuação do Black Album controversa, que eu julgaria até boa, ficaria em sexto na discografia mas tudo bem. Infelizmente eles continuaram gravando.

'Bleeding Me' é a verdadeira cara do novo Metallica, os aliens devem ter copiado as ideias na cabeça do Metallica verdadeiro pra gravar o começo do cd, mas aqui já não tinham mais ideias e gravaram o que estava na moda em Orion (a constelação, não a música do Metallica que chamou a atenção dos ets). É um rock lento que absolutamente não parece Metallica, chega a ficar pesado em alguns momentos mas está totalmente aquém de toda a discografia da banda até o momento. Deixaram o Kirk solar loucamente perto do final só pra tentar acordar os ouvintes e colocá-los em coma novamente.

Em 'The Cure' o baixo de Jason aparece novamente, talvez porque os caras estavam sem muitas ideias sobre o que fazer com as guitarras, mas até que tem uns trechinhos legais, é lenta, com algum peso. Pouco parecida com o Metallica.

'Poor Twisted Me' é outra música onde o baixo de Jason aparece. Novamente, Kirk e Hetfield estão brincando de tocar guitarra. A música é lenta e é a mais alienígena até o momento, se essa música fosse o carro-chefe do cd e saísse nas rádios e Mtv, as pessoas pensariam que o Metallica morreu e foi substituído por robôs.

'Wasting My Hate' é o sopro de esperança (falso) que o cd não irá terminar mais desastroso do que isso. A música é rápida e pesada, deixam até o Jason participar. Eu não percebi solo de guitarra algum, sinais dos novos tempos.

'Mama Said' é a balada declarada do álbum. É uma boa balada, mas completamente alienígena, não parece que foi o Metallica que gravou. Compare com Nothing Else Matters, uma parece uma balada de rock, a outra, de country.

'Thorn Within' é uma música estranha, lenta, que parece desafinada às vezes, tem um riff legal, mas um riff não salvou o resto da música.

'Ronnie' é um rock que veio de algum outro lugar do universo, mas não do Metallica. Com certeza todo fã que ouviu essa faixa pensou 'What the fuck?!?'

'The Outlaw Torn' foi a rasgada final (perdão) na alma do fã. Como sempre, quando não sabem o que fazer com a guitarra deixam o Jason aparecer. A abordagem dos vocais encaixa perfeitamente com a chatice da música. Uma música lenta que fica patinando e não sai do lugar (veríamos isso novamente no futuro em The Unforgiven III), e acaba torturando o ouvinte por uns 10 minutos. Um cuspe na cara.

Enfim, minha análise hoje é muito mais fria do que na época. De minha parte havia uma certa decepção, mas hoje eu entendo o ódio profundo que muitos sentiram, é difícil dizer que este álbum é de heavy metal, quanto mais compará-lo com o que o Metallica havia feito até o momento.

Além da quebra no heavy metal, no visual, nos temas, na minha opinião o mais grave de tudo o que ocorreu no Load foi o Metallica ter lançado faixas pífias. Isso nunca havia acontecido antes. Não é exagero chamar todos os álbuns anteriores de obras-primas. Escape, que para mim era a faixa mais fraca do Metallica, come com farinha quase este álbum inteiro.

Enfim, não é um álbum que chega a ser ruim, algumas faixas são boas, mas em comparação ao que o Metallica havia feito até o momento, Load é uma catástrofe.

Nota: \m/\m/\m/


The Magician

Regresso de uma das inúmeras realidades turvas que frequento para pôr fim nesse maldito monólogo do morto-vivo conhecido nessas bandas apenas como "Trooper".

A postagem de "Load" não é somente uma afronta já esperada por quem teve a oportunidade de acompanhar os anos vicejantes desse blog moribundo; quem viveu aquela época sabe também que esse título em nossa página principal é uma espécie de profecia de morte para o próprio grupo dos Metalcólatras, em um momento em que apenas o sofrimento reprimido e o sentimento de chacota derradeira restassem na psique dos membros da resistência. Mas não será dessa vez Trooper, que você irá desferir o golpe fatal nesse site, até porque, se alguém o fizer.. adivinha quem será.... Mwahahahahah!

Confesso sem nenhum tipo de orgulho que essa tiragem consta na minha coleção particular de compact discs. A história por trás dessa aquisição consegue ser ainda mais constrangedora  do que o simples ato de ter o CD (mas como comentou um desertor metalcólatra certa vez, esse é um fórum que não pode se omitir de disponibilizar seus registros constrangedores..); pois bem, certa vez em 1998 eu e um grupo de amigos que por nenhuma circunstância normal teríamos a oportunidade de comprar ao menos um CD na recém inaugurada loja Fnac de Pinheiros, fomos agraciados com uma visita no local com o direito a um "pick" qualquer nas recheadas e reluzentes prateleiras da loja - cortesia de uma boa alma que também era nossa professora de português e literatura do antigo "colegial". Obviamente os delinquentes com essa oportunidade não se contentaram com um único disco (no meu caso já havia sido o Load), e eis que se materializa a ideia do nefasto Leobardo de "alguém" mais pegar dois CD's ao invés de um, "sem querer", para que a porta da bondade se abrisse aos demais delinquentes. Havia um membro mais cara de pau nesse grupo infeliz, e tenho que dizer que o vândalo era eu...... 

O plano deu certo, e pra desgraçar ainda mais esse conto, tenho que dizer que meu outro pick foi 'Garage Inc.' - que na época custou surreais R$30,00 por se tratar de lançamento + álbum duplo (não tenho coragem de inflacionar esse valor, mas deve extrapolar o preço que o Trooper pagou pela obra 'ma-o-mê' do Impelliteri). Eu tenho certeza que a professora de pt cortou as relações com todo o grupo por causa disso.. e como sou solipsista e centralizo em meu ser todo o multiverso, tenho certeza que Load, que deveria ser um bom álbum, se tornou automaticamente uma merda quando finalizei o meu golpe.

De qualquer modo vamos ao que interessa, caros e caras desocupados e desocupadas: à resenha do álbum.

Se você não é muito próximo, ou muito atento ao que representa e quais são as características principais do Heavy Metal ou Thrash Metal, (e se você for muito jovem também... porque os jovens, musicalmente, eu juro por Deus que não entendo!) você pode considerar que Load é um álbum pesado o bastante para ser considerado Heavy Metal, e também (mais grave) pode achar que Load não é tão diferente assim dos trabalhos precursores...

Então vou iluminar sua mente limitada esclarecendo: Load é muito diferente do que tudo que o Metallica fizera até ali, e COMPLETAMENTE diferente do que tudo que o o Metallica fizera até And Justice For All". Os membros do Metallica gozavam de certa credibilidade entre músicos formados, as revistas especializadas rasgavam elogios ao trabalhos anteriores, e a quantidade de transcrições de suas composições nas publicações dedicadas às guitarras, era simplesmente fora do comum. Se Mercanth ainda frequentasse o blog, diria que esse é um fenômeno comercial, mas obviamente seria mais um comentário idiota saindo de sua boca. 

A adoração da comunidade musical é reflexo da própria dedicação à técnica de seus membros, e é fácil de exemplificar:  o Metallica ficou conhecido pela quantidade de riffs fraseados que inseria em suas canções - aqueles onde interpretam nas guitarras uma frase formada de muitas notas tocadas individualmente dentro de determinada escala, ao invés de golpear incessantemente um acorde rítmico, característica muito mais associada ao Punk ou ao Grunge - ainda que fossem brutais, exemplos memoráveis não faltam: as duas introduções de 'Master of Puppets', os versos principais e o riff melódico conclusivo de 'Sanitarium', os versos de 'Lepper Messiah', os riffs e bridges de One, a introdução trovejante de 'Blackned', e assim vai. Mesmo quando priorizavam o peso extremo com uso mais frequente dos power chords (Creeping Death, Battery, And Justice.., Disposable Heroes...), esses eram intervalados por licks matadores - pequenas frases de três a cinco notas entre os acordes. 

Antes de Load, as músicas do Metallica reservavam espaços generosos para aplicação dos solos, algumas vezes com duas ou até três composições solistas (!), e dentre eles (embora os hipócritas não admitam) duas obras memoráveis obras de Kirk chamam a atenção nas escolas de música: o segundo incendiário solo de Master of Puppets, e o progressivo solo de Creeping Death pautado no modo frígio (ou escala oriental/árabe). 

Nada disso está presente em Load. Os membros trocaram essas características colocando na frente das composições seus sintetizadores e suas inúmeras experimentações como cartão de visitas, que incluem o Cry Baby onipresente de Kirk e os acordes repetitivos e prolongados com abuso de Hall, Flanger e Chorus de James Hetfield. O frontman inclusive encarnou Tobias Sammet ao colocar overdubs com camadas de sua própria voz não tão afinada pra se arriscar nessa abordagem (pode-se perceber em Hero of The Day), mas o limite do desvio de personalidade da banda é representado pelo talkbox utilizado por Hetfield em "The House That Jack Built".

O resultado é que o que o Metallica reformou sua musicalidade, tirando de cena para sempre suas performances baseadas em técnica e brutalidade apoiadas em um material lírico social e crítico, que era totalmente condizente com a 'identidade' da banda forjada ao longo de uma década; para no seu lugar,  fazer o "Upload" (¬¬) de composições monótonas e imersivas, baseadas em viradas atmosféricas com sons translúcidos e psicodélicos.

Eu não vou ficar aqui especulando o porque dessa escolha dos membros da banda naquela altura do campeonato, pois estou velho pra isso, e para mim basta essa descrição resumida que apresentei do que aconteceu com o som da banda na ocasião deste lançamento. O fato de eu estar velho, também faz com que eu dê certo valor ao material concebido (e até aponte alguns destaques, como King Nothing e Until it Sleeps), mas isso não apaga o fato que o Metallica - talvez a banda que melhor traduziu a semântica da música pesada no planeta - nunca mais tenha produzido algo semelhante à sua discografia oitentista após o lançamento de Load, e consequentemente deixou seu posto vago para todo o sempre, com uma espécie de vácuo no coração de cada metaleiro que algum dia de sua vida sem significado se arrepiou com Blackned, Fade To Black, The Call of Cthullu, Orion, Disposable Heroes, Harvester of Sorrows, Frayed Ends of Sanity, Ride the Lightning.....  

E isso ninguém aqui nesse blog pode negar. É algo triste.

Nota 5,5 ou \m/\m/\m/.

Pirika
Load...talvez o pior cd do Metallica, ou seria esse o St. Anger? Não devo ter ouvido o St. Anger mais do que duas vezes (exceto por algumas músicas específicas) porém também não me lembrava mais do Load, imagino que quando o Trooper nos agraciar com o St. Anger tenhamos essa resposta, além de testemunharmos que ele postou as 3 piores coisas que o Metallica fez até hoje.

Eu acho que comecei a ouvir metal em 98 ou 99, não me recordo com exatidão, mas com certeza conhecia as músicas pós And Justice antes de ter comprado o Ride the Lightning e ter dado novos rumos a vários aspectos da minha vida. Pois bem, músicas como King Nothing e Hero of the Day já eram do meu dia a dia e continuam sendo do meu gosto, porém ter ouvido esse cd novamente sei lá quantos anos depois traz aquela indignação de não entender como aquele Metallica virou isso. Os caras fazem o que querem e de fato sempre houve uma evolução/mudança em diversos aspectos entre os cd’s, com certeza um dos vários motivos que fizeram do Metallica o que eles são hoje, mas se pensarmos que 2 álbums antes eles haviam feito algo do nível do And Justice e agora faziam músicas no nível de The House Jack Built é para de fato revoltar qualquer admirador do Metallica.

Se analisarmos de forma única e imparcial esse cd eu diria que teremos um cd de rock ruim para mediano, porém não é isso que faremos aqui. Falemos primeiramente do que esse cd tem de bom. Esse cd tem algo de bom? Sim. Por mais que aquele tal de Lars seja um vendidinho, mascaradinho e perninha, os músicos do Metallica são ótimos músicos, James Hetfield é uma das melhores coisas que esse planeta já teve musicalmente falando, então mesmo que seja um estilo de rock ruim eles conseguem fazer coisas boas quando inspirados. Digo mais, boas não...ótimas.

King Nothing até hoje é uma das minhas músicas favoritas no geral, mesmo se considerarmos os primeiros álbuns e é definitivamente a melhor desse cd. Until it Sleeps, Hero of the Day e Ain’t my Bitch completam o que esse cd tem de melhor. Após esse pelotão temos algumas músicas razoáveis/legais como Bleeding Me, Mama Said e Wasting my Hate...e só. O resto do cd é um lixo e isso que leva a revolta de tantas pessoas. Músicas que pouco tem a ver com o que a banda já fez (de bom e de ruim), sem inspiração e sem qualidade. Acho que a música que melhor simboliza isso é The House Jack Built que é uma coisa medonha do começo ao fim. As outras músicas são igualmente ruins e pífias: 2 x 4, Cure, Poor Twisted Me, Thorn Within, Ronnie, The Outlaw Torn, nenhuma dessas se salvam.

Um cd ruim que teve sua nota elevada por algumas músicas muito boas e que não vale o tempo nem o esforço. Em tempo, Trooper favor postar o St. Anger para termos certeza da sua índole de metaleiro com gosto duvidoso.



Top 3: Until it SleepsKing Nothing e Hero of the Day. Shame Pit: The House Jack Built.

Nota: 4,5

“Careful what you wish, Careful what you say

Careful what you wish you may regret it

Careful what you wish you just might get it”