domingo, 31 de outubro de 2021

Angra - Temple of Shadows

 O álbum Temple of Shadows, lançado pelo Angra em 2004, foi escolhido por Trooper para análise.

01-Deus Le Volt!; 02-Spread Your Fire; 03-Waiting Silence; 04-Wishing Well; 05-The Temple of Hate; 06-The Shadows Hunter; 07-No Pain For The Dead; 08-Winds of Destination; 09-Sprouts of Time; 10-Morning Star; 11-Late Redemption; 12-Gate XIII




The Trooper
3
Algumas postagens atrás eu disse que dois álbuns do Angra ainda precisavam entrar no blog. O principal é este aqui.
 
Acho que foi a primeira vez que acompanhei todas as letras de Temple of Shadows, e para a audição fiz questão de colocar meus fones esmaga-crânio, o álbum merece que eu passe por desconforto só para ouví-lo melhor.
 
A primeira impressão dessa vez foi: 3 anos depois de Avantasia, Rafael pensou, 'a gente faz isso aí sem o rótulo de projeto superbanda' ... e ... ele conseguiu?
 
Não vou dar essa resposta, acho que ela cai na subjetividade porque a qualidade de ToS é inquestionável. Tudo bem, o Angra não fez isso exatamente sozinho, chamou uns monstros consagrados do heavy metal pra participar (e não só heavy metal, Miltão que o diga). Mas criou uma obra-prima na mesma toada de Avantasia, uma história com temática e narração semelhante, com o adicional da pitada padrão do Angra, introduzindo ritmos, principalmente brasileiros, que dão um 'gosto' bem diferente da outra obra-prima citada. Uma resposta, entretanto, eu posso dar: Temple of Shadows é melhor do que qualquer continuação de Avantasia.
 
'Mas aí foi na onda, pô! Não foram originais!' Vai saber desde quando a ideia tava na cabeça dos caras (não fui atrás), mas pra mim não interessa, não. Interessa o impacto que a obra causa, e em mim, posso dizer: que impacto!

Já na primeira vez que ouvi, as pedradas que as primeiras faixas arremessaram deixaram cicatrizes eternas. O Angra já havia provado em Rebirth que a cisão não enfraqueceu o grupo, e em ToS deixaram a dúvida se transcenderam sua obra anterior. Essa é outra resposta que não vou dar. Mas que esse álbum tem toda a pinta de ápice de uma vida tem. Trace um paralelo com Nightfall e a discografia do Blind Guardian ... Há muitas semelhanças.

Sobre o álbum em si, ToS começa freneticamente destruindo tudo ao seu redor. Depois da pancadaria de Spread Your Fire, vem a magnífica Waiting Silence. Eu me surpreendi nesta "re-audição", pois essa música é uma das melhores que eu já ouvi em todo o heavy metal. O contrabaixo aparece maravilhosamente aqui (aliás, o baixo neste trabalho todo é f&*¨¨%!).

Wishing Well eu citei na resenha do último álbum do Edu como sendo a faixa alegre do álbum, mesmo assim, fantástica.

O álbum continua em uma pancadaria balanceada até chegar em outro pico de transcendência: Winds of Destination. P¨$& #$% *&@¨$! Com a participação da lenda, da entidade, do monstro: Hansi! 💥
Aí não dá! Compete com Waiting Silence como uma das melhores músicas do heavy metal (outra surpresa de "re-audição"). Eu acabei de resenhar o Senjutsu, não posso deixar passar: Harris, de que adianta fazer uma música de 13 minutos se o Angra consegue varrer o chão com sua obra em 7 minutos? Aprende aí, isso sim parece prog. O Angra aliás, revira os ritmos e progressões durante todo o álbum com verdadeira maestria.

De Sprouts of Time pra frente o álbum dá uma desacelerada mas sem perder a magnificiência e encerra tranquilamente com Gate XIII, uma instrumental retalho simbólica (pelo menos no que eu achei da Wikipedia sobre o tema do álbum).

Só tenho a acrescentar que todo mundo destruiu no álbum, instrumentistas, vocalistas e convidados. Uma obra-prima.

Presta atenção na nota, Maiden e críticos profissionais (alô, Allmusic cocozenta): \m/\m/\m/\m/\m/

Profissional o meu ovo!

P.S.: Põe na conta dos álbuns temáticos mais uma bomba que explode mente. Será que álbum temático sempre tem o potencial de ser melhor do que qualquer outro não-temático? (Bem, temos Pyramaze aí pra discordar).





Phantom Lord
Ora, ora, ora, o "progmetal" mais criativo e técnico que conheci chegou ao blog. 

Mas agora quando pego para ouvir um révi metal, eu dedico um tempo para checar o conteúdo/ as letras... Pois é, fiquei chatão para alguns, não que eu me importe com isso.

Pois bem, no início do Temple of Shadows as letras parecem o blá blá blá surrado sobre o bem e o mau, sobre Deus e o capiroto, sobre anju e demonhu... Nas 3 primeiras faixas não parece haver muita clareza, o que faz com que o assunto se torne obscuro. É só uma crítica à fé? Uma manjada crítica à igreja cristã? Seria um álbum para posar de intelectualóide rebelde? Não desta vez... Ao menos lá na faixa "x" (4 ou 5, não lembro) fica claro que eles estão contando a história de um guerreiro cristão medieval, ou seja, de um cruzado (fictícia, mas baseada em alguns fatos reais). Isto faz das letras, uma maravilha? Uma porcaria? Nem um, nem outro, algumas são melhores, outras piores. Acho válido criticar as guerras esdrúxulas como as cruzadas, mas a questão do "além" é trazida em algumas músicas, e eu não concordo com tudo que os caras do Angra colocam nas letras. Porém não consigo nem tenho cabeça para aprofundar neste assunto usando como base o Temple of Shadows. 

Winds of Destination foi minha música favorita por anos e ainda acho boa esta obra "Blind Guardada", mas é um tanto longuinha, não? Sim, os caras são musicalmente competentes e há uns trechos muito criativos e bem executados, mas ao ouvir hoje, em 2021, dou mais um pouco de valor à crítica que André Mattos fez a seus velhos companheiros: As vezes as músicas desses caras parecem vídeo aulas. Enfim, eu gostava mais de músicas pauleiras (talvez fosse uma auto-afirmação metaleira minha), mas hoje eu destaco as "baladosas" Wishing Well, Sprouts of Time e Morning Star. 

Deus Le Volt!/ -Spread Your Fire; 7,0 

Angels n Demons 7,7 

Waiting Silence; 7,5 

Wishing Well; 8,3 

The Temple of Hate; 7,2 

The Shadow Hunter; 7,5 

No Pain For The Dead; 7,7 

Winds of Destination; 8,0 

Sprouts of Time; 8,3 

Morning Star; 8,0 

Late Redemption; 7,5 

Gate XIII 7,7 

Apesar de minhas críticas, Temple of Shadows era muito apreciado por mim: Acho que eu daria nota pouco maior que 8 para ele há anos atrás. Hoje, com uma nota pouco menor, ele ainda entraria num top 40 ou 50 meu... Mas eu não sei se eu faria um top 50 novamente. Nota: 7,7

The Magician

O Angra é Power Metal, com suas principais inspirações claramente sendo rastreadas até o Power/Speed alemão dos anos 80; mais especificamente, e sem dar muitas voltas, vinculadas ao Helloween (como muitas outras bandas que ascenderam “à fama” [pffff] na virada dos anos 90’s para os anos 00’s). Embora, para os verdadeiros conhecedores, isso seja um fato indiscutível, esse tipo de conclusão racional, baseado em um tracejamento da linha reta entre os pontos “A” e “B”, incomoda bastante os artistas, por colocar uma estampa restritiva em seus trabalhos. E por esse motivo o Angra, como muitos outros, tentam – conscientemente ou não - ocultar esse fato, seja por meio de opções líricas e semânticas, seja por enriquecimento da sonoridade através de importação de outros gêneros às composições, ou com a incorporação de aspectos culturais em suas músicas.

Só que não aqui. Em Temple of Shadows o Angra escancarou suas referências primordiais, de forma mais clara do que até mesmo em seu debut “Angel’s Cry”.

Em minha opinião as características onipresentes da bateria de pedais incessantes e ritmo acelerado, somado às guitarras base e contrabaixo de constante pontuação em semimínimas, carregam esse álbum ao posto de ‘o trabalho mais power metal do Angra’ até aquele momento da carreira. Outros fatores importantes corroboram com essa impressão...

O espetacular álbum anterior, ‘Rebirth’, que apesar de ser sim power metal, exprimia toda a liberdade criativa cheia de exageros dos dois guitarristas virtuoses (libertos do maestro/professor que colocava limites aos seus ímpetos exibicionistas), e por causa disso, aquele álbum do Angra foi redirecionado para um catálogo mais específico de metal progressivo e técnico, com músicas lavradas em fraseados muito mais elaborados, escutados somente em, por exemplo, trabalhos de guitarristas expoentes como J. Petrucci. Ao escutar Rebirth, fica muito clara a existência de faixas ‘protagonistas’ independentes uma das outras, sem o sentido de conclusão no conjunto das composições; ou seja, a obra prima ‘Acid Rain’ não conversa de maneira alguma com ‘Heroes of Sand’, ou muito menos com ‘Millenium Sun’. E em Temple of Shadows o trabalho da banda foi construído na lógica inversa.

Nesta obra, as pautas se completam percorrendo a história do cavaleiro “caçador das sombras”, logo, uma serve de prólogo para outra até a conclusão do disco, e a sonoridade toda suporta essa ideia de álbum conceitual. A mixagem do som equilibra guitarra, baixo e bateria, de forma quase uníssona, e esse corpo sonoro (mais a ajuda providencial dos teclados) é coadjuvante dos vocais na maior parte do tempo. A história e o orador são na verdade o cerne do álbum, como ensinou Helloween nos primórdios do power metal alemão, enquanto as partes instrumentais somente se projetam em momentos bem específicos das composições.

Com essa essência, Temple of Shadows se apresenta como um ótimo trabalho de nicho, com bastante técnica e qualidade, mas em claro detrimento às grandes e memoráveis canções (talvez por isso o Trooper abriu mão de escolher uma música ou mais como destaque). Todos os membros da banda estavam engajados e em sintonia absoluta com o resultado final, e entregaram com primazia suas partes, também sem nenhum destaque acima dos demais, que pode afinal somente ser atribuído ao Edu, devido à proposta já mencionada do trabalho (idealizado por Rafael). Ainda assim quero enfatizar a coerência na construção de algumas composições que acredito ser dignas de atenção: “Wishing Well” (DNA do Edu), “No Pain for the Dead” (cadência necessária no álbum) e “Winds of Destination” (Power Metal ROOTS).

Nota 7,8 ou \m/\m/\m/\m/