segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Motorhead - Inferno

O álbum Inferno lançado em 2004 pelo Motorhead, foi escolhido para análise por Phantom Lord.



Phantom Lord

Anos atrás indiquei o álbum Overkill do Motorhead aqui no blog. A idéia era mostrar e comentar um álbum clássico de uma banda bastante influente no cenário rock/metal. Metal? Não exatamente. 
O Motorhead iniciou sua carreira como uma banda de rock, possivelmente sem se apegar a qualquer subgênero, pois suas músicas eram bem variadas (embora parece que muita gente não acredita neste fato, provavelmente por causa do vocal). A sonoridade da banda passava pelo rock n roll e blues-rock foi se aproximando do punk rock e do heavy metal, até que no álbum Ace of Spades de 1980 eles lançaram seu enorme hit (a faixa título) e a partir desta época eles entram cada vez mais nos estilos próximos do thrash metal e punk rock. 
 De um modo geral, percebi que o álbum Overkill não fui muito bem recebido aqui no blog, talvez isso se deva ao fato de que os membros do blog sejam bem "true metal". Então decidi trazer um álbum cuja sonoridade se afasta do rock n roll... Um álbum mais thrash e/ou heavy metal do Motorhead, mas não para agradar a patota do blog e sim para mostrar a diferença na sonoridade da banda, afinal são 25 anos de diferença!! 
 Obviamente, também posso afirmar que a escolha foi feita baseada em meu gosto musical (bem como todas minhas resenhas nesta pocilga): Inferno é o álbum agressivo-pesado com maior variação melódica / rítmica do Motorhead em minha opinião. O vocal de Lemmy sempre grave e rouco pode se parecer um fator limitante (principalmente para quem não gosta da banda, é claro) porém casa perfeitamente com o trabalho instrumental do Inferno. 
 A porrada Terminal Show abre o álbum, seguida pelas geniais cacetadas Killers, In The Name of Tragedy e Suicide (sendo esta última, a menos acelerada das 3). Life is a Bitch tem uma pitada de blues mas pode ser considerada mais uma porrada do álbum ao lado de várias outras faixas. 
Encerrando o Inferno há uma quebra total com o ritmo veloz e pesado: Whorehouse Blues. 

Terminal Show 7,5 
Killers 8,8 
In The Name of Tragedy 9,0 
Suicide 8,5 
Life is a Bitch 8,5 
Down on Me 8,1 
In The Black 7,6 
Fight 7,2 
In The Year of The Wolf 8,4 
Keys to the Kingdom 7,6 
Smiling Like a Killer 7 
Whorehouse Blues 6,9 

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 Nota Final: 8,0


The Magician
Kilmister e sua trupe são "Ph.D" em Rock/Metal, isso somado ao fato de que as conhecidas características da biometria sonora da banda já tenham sido pra lá de digeridas pelo grande público consumidor do Rock e afins, faz com que a chance de algum lançamento do Motorhead fracassar seja praticamente nula.

Inferno é o décimo e sétimo álbum da banda, e como esperado não apresenta grandes modificações naquela linha ríspida já conhecida de rock/metal dos ingleses. Particularmente acho isso muito bom, pois quando esses dinossauros entregam aquilo que sabem fazer de melhor podemos crer que teremos mas uma linha escrita permanentemente no grande tomo do Metal. 

Nessa obra encontramos um belo trabalho de um rock n roll "classiqueira" acelerado vestido em distorção mega pesada, essa abordagem abraça pelo menos 7 faixas do disco, e qualifica a obra em minha opinião como um conjunto divertido de rock pesado recheado com a inigualável aspereza vocal de Lemmi. Contudo os caras não perderam a oportunidade de registrar mais dois petardos que em minha opinião entram na lista oficial de grandes sons imortalizados do grupo: "Killers" e "In the Name of Tragedy".

Fora isso é curioso analisar os moldes da canção "In the Black", em que, fugindo do pragmatismo Motorhediano na sua introdução e no refrão, a guitarra impõe uma passagem evocada do estilo grunge/hc pós 2000 com o vaivém da mão direita sobre as seis cordas saturando os humildes acordes em quinta. Esse impulso pode ter acabado na parceria com o FooFighters em "White Limo" - http://www.youtube.com/watch?v=ebJ2brErERQ - além de outros projetos posteriores com o polivalente Dave Grohl.

Nota 7,1 ou \m/\m/\m/\m/.

Desabafo: Lemmi pertence à um grupo de caras bipolares que assim como Page, Angus, Ozzy e Iommi  vez ou outra aparece na mídia repudiando a ideia de que é compositor de Heavy Metal .... o principal e o mais óbvio motivo é a idade desses caras.
OK, acho que o artista deve mesmo fugir de rótulos e evitar ao máximo limitações para sua criação, afinal sob uma análise mais fria, o fato de um figura assumir o "estilo de vida" de metaleiro pode não ter nada a ver com a música propriamente dita. 
Só que o Heavy Metal - mesmo que sempre misturando diversos elementos e tendo se baseado no arquétipo do Blues, R&B, country e Rock n roll - tem algumas características próprias adquiridas através dos anos que o diferenciam do básico, e isto É FATO. Quando o baterista decepa o swing da bateria, quando o guitarrista opta por algumas distorções e padrões de grooves agressivos, é óbvio que a sonoridade muda! e os músicos não são tão ingênuos ou desentendidos para dizer que é tudo a mesma coisa! O que estou querendo dizer é que quando Lemmi compõe coisas como "In the Name of Tragedy", o quengo sabe que está gravando HEAVY METAL e que vai vender para este público sim senhor. 
Isso é hipocrisia desses caras, que por possuírem uma espécie de isenção devido ao fato de interferirem diretamente na criação desse estilo, não pensam ou medem suas declarações direcionadas ao mainstream ,visando como sempre a merda do dinheiro.
Por isso acho muito mais louvável a atitude simples de um cara como Zeca Baleiro, que gravou o som "Heavy Metal do Senhor" ou Luis Caldas, que afim de dar uma variada gravou um CD de Heavy Metal (h-e-a-v-y m-e-t-a-l) - Metal Pesado - isso existe, é um estilo de som e em sua forma e estrutura (embora não na essência) se difere do Rock n Roll!

Em uma conceituada série-documentário da BBC sobre o Rock, que procura em alguns momentos denegrir o Metal, houve um pequeno deslize que passou desapercebido pelos produtores; B.B King - um verdadeiro representante do mais arcaico, produtivo e purista núcleo da música popular vindoura, o Blues - quando questionado sobre a aplicação dos novos estilos e abordagens extremas sobre a guitarra elétrica, humildemente agradeceu à este cenário e seus movimentos: " ... é o modo de nossa verdadeira música sobreviver e instigar o interesse dos mais jovens..."     

Tá aí... alguns chamados de "sábios" falam pelos cotovelos pra dar uma dentro, outros como no exemplo acima falam pouco, mas essa economia exprime um conteúdo que esses faladores jamais nos contariam... 

The Trooper
3Ótimo álbum do Motörhead, as 3 primeiras músicas são um atropelamento contínuo. Suicide diminui o ritmo, mas não o peso e Life's a Bitch é um rock clássico muito bom. A sexta faixa, Down On Me é para mim a que mais se diferencia, uma grande mistura de heavy metal e rock clássico. In The Black é uma grande música (dá uma olhada nesta letra), se o Bon Jovi e o Coverdale encaixassem suas letras neste ritmo como o Lemmy, o mundo seria diferente. O álbum então encerra seu fôlego com Fight e In The Year of The Wolf, grandes porradas. Keys to the Kingdom é mediana e Smiling Like a Killer quase atinge o nível das primeiras canções mas ainda está um pouco abaixo. Finalmente, Whorehouse Blues fecha o álbum muito bem, um acústico com a cara do Motörhead.
Lembrando que Steve Vai toca nas faixas Terminal Show e Down On Me, e coincidentemente minhas três faixas de destaque abarcam as duas em que ele participou: Terminal Show, Down On Me e In The Year of The Wolf.
Não tenho um conhecimento profundo da discografia do Motörhead, mas me arriscaria a dizer que este é um dos melhores trabalhos da banda.

Nota: \m/\m/\m/\m/

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Venom - Black Metal

O álbum "Black Metal" lançado em 1982 pela banda inglesa Venom, foi escolhido por The Magician para análise.




Phantom Lord

Após cerca de 10 anos ouço o tão-influente Venom mais uma vez... 
Não me lembro exatamente das músicas desta banda que ouvi no passado mas notei uma diferença nítida: as músicas deste álbum (Black Metal) parecem mais rústicas, menos guturais e (parte delas) menos aceleradas do que as músicas que ouvi por volta de 2003.
 A rusticidade em si não chega a ser um grande problema, mas a sonoridade aparenta ser bem amadora com um trabalho instrumental no máximo de "nível simplório". 

Não conheço muito da discografia da banda, mas se o caminho escolhido após o álbum "Black Metal" foi o do vocal urrado, tenho certeza de que nada melhorou... 

Acredito que o Venom teve sua importância no cenário Heavy Metal (e seus respectivos subgêneros), porém este disco apresenta-se como um embolado de faixas toscas que apesar de ruim não chega a ser completamente insuportável de se ouvir. E falando em embolado de faixas toscas, por dificuldades "técnicas" prefiro não divulgar uma avaliação "destrinchada faixa a faixa"... 

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Nota Final: 4,0

The Trooper
3Pode parecer que não, mas estamos falando de uma banda importante para o cenário do heavy metal. Esses caras foram pioneiros em parte, seu estilo era um proto-thrash, para mim, eles pegaram as músicas mais rápidas do Motorhead, misturaram com Black Sabbath e encheram seus álbuns com elas.
Como o guitarrista, Konrad Lant, o Cronos, afirmou, embora os membros não fossem satanistas, as letras eram uma celebração ao mal devido à necessidade de superar músicos como Ozzy Osbourne, do Black Sabbath, que: "sing about evil things and dark figures, and then spoil it all by going: 'Oh, no, no, please, God, help me!'"*. Pois é, o resultado são letras parecidas com o que foi comentado aqui na resenha de Iron Blessings, do Sacred Steel. Para mim, uma merda, mas o vocalista pelo menos não defeca com sua voz, faz um estilo mauzão meio Lemmy Kilmister, e o instrumental, embora limitado, e com uma produção digna do Burning Witches, do Warlock, manda razoavelmente bem.
Enfim, não é um álbum ruim, se não fosse um álbum do nicho satanista, e a banda em geral procurasse se encaixar em outro setor do mercado, talvez a história do thrash metal tivesse sido diferente.
Meu destaque vai para a segunda faixa, To Hell and Back, que é um pouco mais lenta que as demais, e talvez justamente por isso se destaque, com um clima melancólico e mais uma letra monga.

Nota: \m/\m/\m/

*"cantam sobre coisas más e figuras negras, e então estragam tudo cantando: 'Oh, não, não, por favor, Deus, me ajude!'" - tradução livre da wikipedia

The Magician
A seleção do disco "Black Metal" da banda inglesa Venom como post de nro. 112 do nosso blog resgata a história de toda uma variação do Heavy Metal, homônima, que a maioria dos críticos deste site ignora mas que é razoavelmente importante para a indústria atual do Metal. Trata-se afinal de uma lição de casa ainda não feita pelos Metalcólatras.

Embora com raízes nas pautas setentistas de Geezer e Iommi, essa história na verdade começa em 1981 com "Welcome to Hell" onde o ângulo e a proposta lírica da banda já estavam bem definidos; foi com essa tiragem na verdade que a banda definitivamente semearia um terreno extremamente fértil para o discurso satanista.

Mas o segundo álbum é o que foi adotado por todos seus seguidores como material referencial e arquétipo para uma sequência de gerações contínuas de acordes profanos que orientaram os subgêneros extremos até os dias de hoje. Por isso vale uma rápida análise do conteúdo musical do álbum "Black Metal".

O trio inglês propôs uma sonoridade realmente suja pra concentrar o material, primeiramente ao apresentar fatores de produção precários e em segundo ao equalizar os instrumentos em frequências muito parecidas e não destacadas; esta proposta aliada à abordagem musical incomum para a época de grooves arrastados cheios de distorção com beats corridos, daria uma assinatura inovadora de desordenação às composições , que se tornaria uma pré-característica do metal extremo de nichos como Trash/Death e Black Metal. Além disso o vocalista "Cronos" coloca suas partes em interpretações coléricas que seriam também uma forte influência para estes mesmos sub-gêneros posteriormente.

Ainda assim, com a óbvia falta de aptidão dos músicos da banda, percebe-se que existe uma mínima preocupação com a estruturação e distribuição dos tempos e da leitura melódica da obra como um todo. Mas não dá pra negar que em alguns momentos, utilizando-se da "licença poética" de um trabalho criado no viés de produto extra-popular ou marginalizado, indiscutivelmente a harmonia é prejudicada pela mesma falta de talento.

O Venom, sob esse aspecto - o apenas musical - ainda compete com muitas outras bandas e colaboradores de maior peso, que redefiniram os padrões sonoros refinados ao longo do tempo, dando um corpo ao HM esboçado pelos roqueiros dos anos 70; entre esses responsáveis por essa "arte-final" estão inúmeras bandas que nos induziram à aceitação dos vocais guturais, distorções ultra saturadas, grooves machine-guns, bumbos duplos e solos esmerilhados de guitarra.

O que sobra então como inquestionável "contribuição" dos ingleses para o Metal é a indução do discurso oficial do roqueiro anti-cristo, ou seja, a apresentação formalizada através de uma mídia para as massas (no caso, o rock) da figura injuriosa da personificação do mal como objeto de respeito e adoração - muito embora também este tema já tivesse sido cercado anteriormente por bandas como Misfits, Rolling Stones e obviamente o Sabbath.

Sendo assim, sem qualquer intenção de classificar a temática da "literatura" do Heavy Metal em um plano lógico dividido pelo eixo do "certo x errado", me parece claro que um dos principais aspectos do gênero é que se trata de um nicho de músicas de não-aceitação ou de rebelião à um cenário pré-estabelecido de situação totalitária. 

Portanto, quando o Heavy Metal deixa de orbitar a esfera de reflexão filosófica não crítica, aquela que se nivela apenas como uma expressão artística, interlocução histórica, ou ainda alguma referência metafórica externa; ele acaba adentrando sua outra face complementar, que expõe sua característica desafiadora e questionadora, atingindo uma das três colunas controladoras da sociedade contemporânea: 1-) a política, diversas bandas atacam os governos, as instituições militares e a injustiça social; 2-) a religião e a igreja, acusada de ser o principal meio de controle das massas através de discursos conformistas que sustentam a verdadeira hierarquia de poder oculta; 3-) e os valores de moralidade disseminados, que inibe a experimentação dos indivíduos por meios de auto conhecimento supostamente subvertidos, como as drogas, o álcool, o sexo, etc...

Não à toa, os temas satanistas do Venom, rapidamente colocados em posição de escarnio pela nossa sociedade ocidental secularista, encontraram sua morada em uma cultura aderente ao seu contexto. Os nórdicos (principalmente a Noruega), impelidos pela expansão catolicista da época medieval aderiram à causa do Venom como um bastião pagão traduzido por guitarras elétricas e bumbo duplo, misturado à violência exacerbada e comportamento moralmente inaceitável (como queimar igrejas).

O Venom em 1981 abriu os portões do inferno e liberou os diabinhos, que no decorrer dos anos não se sustentaram na mídia e prestes a ficarem órfãos foram adotados pelos descendentes metaleiros dos Vikings , que mal sabem que o chifrudo não morava em Asgard, nem nunca esteve nos salões de Valhalla...

Nota 5,0 ou \m/\m/\m/.