sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Nirvana - Nevermind

 O álbum Nevermind, lançado pelo Nirvana em 1991, foi escolhido por Trooper para análise.

01-Smells Like Teen Spirit; 02-In Bloom; 03-Come As you Are; 04-Breed; 05-Lithium; 06-Polly; 07-Territorial Pissings; 08-Drain You; 09-Lounge Act; 10-Stay Away; 11-On A Plain; 12-Something In The Way; 13-Endless, Nameless.




The Trooper
3
Adivinha quem está de volta tentando salvar o blog da morte? Sim, ele, o imortal, aquele que se sua forma física for destruída, continuará por aqui vigiando os atos de todos que entraram ao menos uma vez no blog. Sabendo dessa maldição (ou benção), resta a você se conformar e continuar lendo minhas besteiras (ou ir embora, mas minhas palavras não sairão mais de sua mente ... muahahahaha... ahem... parei).
 
Alguns diriam na verdade que esta é a pá de cal sobre a cova de um já combalido blog, mas eu não me importo. Outros diriam também que agora eu rompi a última barreira do bom senso. Será? Chameleon, Queen, Titãs e até Guns? Deixo tudo isso em aberto.
 
Para falar a verdade, pensei em postar Reload, para continuar minha vingança e o cumprimento da profecia sobre os Metallicólatras. Mas comecei a ouvir e finalmente percebi que ele consegue ser pior do que o Load. Deixei a minha vingança para mais tarde (ou não, pois acredito que muito acham Nirvana pior do que Load. Claramente não é o meu caso).
 
Nirvana foi o meu primeiro contato com música 'pesada'. Nunca tinha ouvido algo tão distorcido ou um cara berrar tanto enquanto a bateria socava meus ouvidos, o impacto foi grande. Na época eu ouvia "Era um Garoto Como Eu" e talvez ainda tinha uma música do Jimmy Cliff e "Nuvem de Lágrimas" na minha única fita cassete. Deu uma virada na minha mente, a próxima virada viria com o Black Album, e talvez a última virada com o Imaginations From The Other Side.
 
Bem, é por isso que Nevermind está no blog? Porque afinal, é um blog de rock ou de heavy metal? Se for de heavy metal, uma grande parte dos metaleiros abomina Nirvana. Por qual motivo? Dizem que o grunge matou o metal. Seria rancor? Alguns criticam as letras. Outros, o vocalista. E ainda outros, a estrutura simples das músicas (isso eu sei que se o Magician se dignar a ouvir, vai reclamar). Ou talvez, tudo isso junto.
 
A verdade é que Nevermind está aqui por eu gostar (e olha, demorou muito tempo para eu conseguir ouvir o álbum inteiro, por um bom tempo eu só conhecia as músicas que foram para a rádio), mas não só isso. Quer você ame, odeie ou cague para o Nirvana, o impacto de Nevermind no mundo musical foi enorme. Impacto positivo ou negativo? Deixo isso para quem se importa, eu só curto o som mesmo.
 
Sobre instrumentos, letras, etc... O que posso dizer é que o álbum começa em um nível muito alto (no limite indefinido de pop, grunge, alternativo e por que não? Punk) e vai perdendo o impacto conforme se aproxima do final, até o momento da queda brusca na 'faixa secreta', "Endless Nameless", que é bem caquinha. Mas no geral é um álbum bem sólido, que se mantém bom por quase todo o percurso, raro de se encontrar fora do metal.
 
Não tenho muito o que acrescentar, então paro por aqui. Um 2022 menos cocozento para todos nós. Até ... ou não.
 
Nota: \m/\m/\m/\m/
 
"He's the one who likes
All our pretty songs and he
Likes to sing along and he
Likes to shoot his gun but he
Don't know what it means
Don't know what it means
Don't know what it means
Don't know what it means
And I say aahh".

The Magician

O indivíduo que recorre a um blog chamado ‘Metalcólatras’ atrás de uma dica de álbum da cena pode se arrepender amargamente, pois aqui estamos novamente abordando trabalhos que segundo seus próprios compositores, não são de maneira alguma pertencentes a esse universo.

Contudo há um porquê. Há um porque de se abordar Nirvana, GnR, Queen, Faith No More, Titãs, ou outras bandas que não necessariamente fazem parte de forma declarada da cena do Heavy Metal, uma vez que esse gênero se molda não somente por referências oriundas de artistas do próprio meio em si, mas também de ideias plantadas em segmentos distintos. Portanto, nós, os membros do blog, volta e meia voltamos a visitar os trabalhos que entendemos que de um modo ou de outro, influenciou ou foi influenciado – e se tornaram expressivos - direta ou indiretamente pela música classificada como “pesada” (ou Heavy).

Eu particularmente acredito que o Nirvana esbarra na história do Heavy Metal e da música pesada como um todo, pegando carona nos estudos de Sam Dunn (produtor de ‘Global Metal’ e ‘Metal Evolution’) que dedica um espaço para o Grunge na grande genealogia do Heavy Metal, e no próprio comentário de Kurt Cobain que Nevermind deveria soar como um trabalho punk-pop miscigenado com Black Sabbath. O produtor Andy Wallace de Seasons In The Abyss contribuiu também para que Nevermind absorvesse um estilo de peso mais sintetizado, afastando (um pouco) o trabalho do punk almejado pela banda, e o levando para algo mais perto de “Motley Crue” (conforme as palavras ditas, também, pelo próprio Kurt).

Um outro ponto importante é que tudo que importa ou que deve ser abordado sobre o Nirvana em um panorama de impacto sobre a música pesada, está em Nevermind. Foi aqui no segundo trabalho que houve o terremoto definitivo na indústria do rock.

Antes do tsunami de destruição que o segundo álbum do Nirvana causou, o Heavy Metal monopolizava o estereotipo do Rockstar: havia os ‘machões’ come-come, os drogadassos que cheiravam formiga, e também os satanistas ritualísticos, os destruidores-de-hotéis e quebradores de pernas em botecos... estavam todos lá, em torno do ídolo de ouro, sem perceber o que estava por chegar. Se esses caras eram ou não ‘Metal’, não importava, a atitude geral desse tipo de rockstar era muito semelhante, a testosterona podia descambar para o sexo ou para violência, e o resultado era o mesmo; muito dinheiro e rotulação onipresente da mídia como “Heavy Metal”.

Eis que Nevermind foi lançado pelos 3 fitas de Seatle. O Grunge já existia, mas era devidamente ignorado.

A história de como essa ‘bolha’ do Nirvana cresceu você pode procurar em qualquer um dos inúmeros documentários e textos disponíveis na internet. Em suma, o estilo suicida, auto destrutivo sem nenhuma auto estima, que expirava insanidade nas letras e na incongruência sonora, transformou o renegado musical que residia no Metal, em um neo-punk-hippie que agora morava no Grunge. E por mais paradoxal que possa parecer o som depre-revoltado-bipolar do Nirvana proporcionou shows lotados com tanta, ou mais energia do que existia nos eventos de Heavy Metal em geral.

Não é nem preciso dizer que o estilo virou moda, abriu as portas da mídia para bandas como Sound Garden, Pearl Jam, Stone Temple Pilots, Alice in Chains, Uggly Kid Joe, entre outras;  e em aproximadamente 6 anos destruiu o tal do Heavy Metal... o espaço sob o sol era habitado pelas bandas Grunge e pós Grunge. Olhando agora de uma posição bem mais distante em 2022, esse movimento inaugurado pelo Nevermind foi muito parecido com o que o punk fez com o rock técnico da contra cultura setentista... a música complexa e abstrata sendo trocada pelos moldes simples e concretos.

À despeito dos impactos desse trabalho sobre o Rock e o mainstream, vejo Nevermind como um disco espantosamente inspirado para sair desse núcleo de três jovens com técnica limitada e (em tese) sem pretensão de grandes composições. As melodias de cara colam na cabeça, os riffs – simplórios – são extremamente expressivos e diretos, os gritos desafinados harmonizam com as distorções exageradas e com a bateria frenética, enfim, não dá pra negar que a banda entrou em uma espécie de fluxo de transe para entregar o resultado revolucionário obtido nessa coleção. Há de se reforçar que as composições – basicamente todas – saíram da cabeça de Cobain, que justifica o culto a personalidade que se criou em torno desse figura. E por cravar essas canções na história do rock moderno, ainda que estivesse cagando pra isso, eu também tiro meu chapéu para esse brother.

Mas por outro lado tenho que dizer: não é o meu estilo de som, ao ouvir para analisar o trabalho com uma postura mais neutra, tem muita coisa aqui que reconheço ter valor (a ponto de ficar difícil destacar menos de – no mínimo – 6 músicas); daí pra colocar o som do Nirvana pra ouvir regularmente no meu Mplayer.... beeeem difícil viu.

Minha conclusão é que: 1-) (obviamente) não é Metal, tem muito mais a ver com uma espécie de ‘reencarnação’ do punk rock do começo dos 80; 2-) o álbum tem o peso de um axioma para a música pesada, a ponto de debutar um gênero (o Grunge) praticamente “sozinho”, e reformar o status quo do Rock daquela geração;  3-) o trabalho é extremamente consistente transmitindo uma identidade muito clara, seis dos maiores hits da banda se encontram nesse álbum; 4-) talvez, somente talvez, tenha sido um mal necessário, desmontou o monte de merda vazia e sem significado que o Heavy Metal estava produzindo à rodo na época (com grande foco na farofagem do Glitter-Hard-Glam-Metal), e acabou – olhando somente para o gênero Metal – abrindo espaço para as bandas power seguidoras do Helloween, que possuíam muito mais conteúdo e menos testosterona gratuita.... pelo menos por um tempinho.

Nota: 7 ou \m/\m/\m/\m/, por causa da importância histórica. 







Um comentário:

  1. Sobre as barreiras rompidas, Pirika me lembrou de Lulu. Trata-se de um momento específico que exigiu tal atitude. É um post à parte do blog.

    Sem mais.

    Att. Fefeu

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